quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Introduçao Vikings


Introdução a Como funcionavam os vikings



vikings


O ano é 817 e é manhã avançada em um mosteiro na costa da Irlanda (em inglês). Da praia vem um grito de alerta: barcos dragão aparecem no horizonte, aproximando-se rapidamente com o vento enfunando suas velas. Um monge corre para dentro do mosteiro para alertar os outros. Esse local guarda relíquias cristãs sagradas como ouro, tapeçarias, jóias e especiarias, além de ser o lar de duas dezenas de monges e de algumas freiras. O lugar também guarda um pequeno rebanho de gado e outros animais domésticos. Tudo isso torna o mosteiro um imã para os homens dos barcos dragão - os vikings.


Ted Spiegel/National Geographic/Getty Images
Colonizadores, mercadores e invasores implacáveis, os vikings irromperam da Escandinávia para aterrorizar a Europa em embarcações velozes como essa reprodução dinamarquesa
Rapidamente os monges trabalham para esconder os artefatos sagrados, para levantar algum tipo de defesa, mas os vikings chegam à praia com uma velocidade impressionante. Eles usam máscaras e capacetes de ferro apavorantes e portam espadas e escudos. Os monges e freiras são massacrados no ataque e alguns são torturados. Tudo o que tem valor é levado para os barcos, inclusive o gado e as relíquias sagradas. Os sobreviventes são capturados também - eles serão vendidos como escravos (em inglês) a seus novos amos escandinavos. É ateado fogo em tudo o que resta. No fim da tarde, o terreno do mosteiro está silencioso, os vikings se foram e não há nada além de cinzas.

Esse é o terror que assolou grande parte da Europa (em inglês) entre os séculos 9 a 11 - a Era dos Vikings. Isso é o que se conhece com base nos escritos dos sobreviventes, das descrições da cultura popular e mesmo de suas próprias sagas épicas - a história de invasores brutais e impiedosos atacando a partir dos mares do norte. Mas os vikings foram mais do que invasores e saqueadores. Eles foram a peça-chave de uma rica cultura escandinava que não apenas devastou parte da Europa, mas também a colonizou. Os vikings fundaram Dublin (em inglês), conquistaram a Normandia (em inglês), controlaram mais da metade da Inglaterra (em inglês) e até descobriram e se estabeleceram na América do Norte (em inglês) séculos antes de Cristóvão Colombo (em inglês) existir. Eles também estabeleceram lucrativas rotas de comércio que chegaram tão longe quanto ao norte da África (em inglês).

Neste artigo vamos conhecer a mitologia e dar uma olhada nos verdadeiros vikings e na cultura que os gerou. Tentaremos entender de onde eles vieram, o que os fez tão sanguinários e o que os levou a se tornar uma das superpotências mundiais no auge de sua era. mitologia em toda a sua glória.

Cultura viking
Os vikings eram pagãos - adoravam um panteão de vários deuses e deusas, cada um representando um aspecto diferente do mundo em que viveram. Mais tarde, os escandinavos acabaram se convertendo ao cristianismo, embora mais lentamente que outros povos europeus (em inglês). Não havia nenhuma igreja central em nenhum dos reinos escandinavos e nenhuma de suas tradições religiosas foi descrita de maneira consistente. Conseqüentemente, a religião viking variava bastante de um lugar para outro. Ela desenvolveu-se ao longo do tempo para uma amplitude bem maior do que a das religiões normalmente codificadas [fonte: Wolf].


Anglo-Saxon School/The Bridgeman Art Library/Getty Images
Um barco dragão, como representado em um manuscrito
Dois grupos de deuses, o Aesir e o Vanir, eram fundamentais para sua religião. Os deuses viviam em Asgard, um reino conectado à Terra mortal (conhecida como Midgard) por uma ponte de arco-íris conhecida como Bifrost. O panteão incluía Odin, o deus principal; Thor, o deus do trovão que empunhava o martelo; e Frejya, a deusa da fertilidade e da beleza. Havia também gigantes maus, duendes perversos e anões. Os deuses eram destinados a lutar contra os gigantes e outras forças malignas em uma batalha conhecida como Ragnarok. As profecias nórdicas prediziam que os deuses perderiam a batalha, permitindo que Asgard, Midgard e o universo inteiro ruíssem em meio à escuridão e ao caos.

Guerreiros que morriam nobremente em batalha podiam acabar em Valhalla, uma espécie de céu dos guerreiros onde todos podiam lutar ao lado de Odin. Eles eram escoltados até Valhalla pelas Valquírias, espécie de guerreiras que auxiliavam Odin. Na verdade, não havia guerreiros viking femininos - a sociedade escandinava era fundamentalmente patriarcal, com os homens detendo a maior parte do poder político e econômico.

Quando morriam vikings abastados ou poderosos, seus corpos podiam ser cremados em um barco junto com muitos de seus pertences ou podiam ser sepultados em um túmulo, uma grande câmara feita de barro. Em qualquer um dos casos, animais de estimação e, às vezes, escravos (em inglês) eram sacrificados e enterrados (ou cremados) junto com o viking. Também há evidências de que os escandinavos ofereciam sacrifícios humanos em cerimônias religiosas [fonte: Wolf].

Os vikings não escreveram sua história (com exceção de inscrições rúnicas ocasionais em pedras) até que se converteram ao cristianismo. Qualquer fato anterior a isso foi passado adiante por uma tradição oral transmitida por skalds - que eram bardos escandinavos que recitavam poemas épicos (chamados sagas) e narravam as façanhas de famosos reis e senhores vikings. Esses poemas podiam ser incrivelmente longos e detalhados. Algumas das sagas foram escritas em épocas posteriores, mas a maioria se perdeu na história.

Essas eram as tradições vikings, mas, e aquele símbolo freqüentemente associado aos vikings: o capacete com chifres? Na próxima seção, vamos ver a tecnologia militar e não militar usada pelos vikings.


­ Armas e navios vikings
Quando os homens do norte se tornaram i viking, estavam bem armados e protegidos com armaduras. Embora uma variedade de armas fosse usada, incluindo arcos, lanças e dardos, normalmente os vikings portavam machados resistentes que podiam ser arremessados ou brandidos com força. A espada longa viking também era comum e tinha quase o comprimento do braço de um homem.


European/The Bridgeman Art Library/Getty Images
Lâminas de ferro de espadas viking
Como armadura, os vikings usavam camisas de couro acolchoadas, às vezes protegidas por um peitoral de ferro. Os vikings mais ricos podiam usar cotas de malha de ferro. Eles também usavam capacetes de ferro. Alguns eram feitos de uma peça sólida martelada no formato de uma tigela ou cone. Outras eram feitas de peças separadas rebitadas a uma faixa de cabeça de ferro e nas junções ou usava-se couro para conectar as peças. Uma peça de ferro ou couro para proteção do nariz se estendia para baixo para proteger a face - em alguns casos era construída uma proteção facial mais elaborada ao redor dos olhos. Extensões para proteção das bochechas não eram incomuns. Os escudos dos vikings eram feitos de madeira, também freqüentemente fronteados com peças de ferro.


Foto cedida por Hurstwic
Réplica de capacete vikingÉ provavel que os vikings não tenham usado o tão conhecido capacete com chifres. Tal invenção não era prática em batalhas, pois o peso excessivo era mal distribuído e não oferecia real proteção. Arqueólogos (em inglês) encontraram tais capacetes em colonizações escandinavas e, na falta de tecnologia que permitisse datar objetos com precisão, admitiram que tivessem pertencido aos vikings. Mas esses capacetes podem ter sido usados por chefes de tribos na era pré-viking. A imagem do viking com um capacete com chifres foi consolidada devido ao uso em óperas, o preeminente espetáculo de cultura popular nos séculos 17 e 18.

Juntamente com suas armas, os vikings se tornaram famosos por seus barcos. O barco longo com o qual eles são normalmente associados, não foi o único tipo de embarcação que os escandinavos construíram. Eles fizeram navios mercantes e embarcações de carga também. Entretanto, todos os seus desenhos têm várias características comuns:

construção com madeira rebitada;
quilha (a peça de madeira na parte inferior de um barco que ajuda a impedir que ele vire);
mastro único com uma vela quadrada de lã;
casco de duas faces (a proa e a popa tinham o mesmo formato, assim o navio podia se mover em ambos os sentidos sem fazer a curva);
timão lateral.
Anders Blomqvist/Nordic Photos/
Getty Images
Os navios de guerra vikings geralmente ostentavam medonhas esculturas de dragão na proa e na popaOs cascos eram recobertos com pele de animal alcatroada, o que permitia vedação contra a água. No total, um típico navio de longo curso de 21 metros teria exigido 11 árvores para ser costruído, cada uma com um metro de diâmetro, além de mais uma árvore para fazer a quilha [fonte: Wolf].

Os navios de guerra eram mais estreitos e tinham mais remos para aumentar a velocidade. Os remadores não tinham assentos especiais - simplesmente sentavam nas vigas mestras que formavam o vigamento interno do barco ou em baús que continham seus pertences. Os furos para os remos podiam ser cobertos de discos de madeira e os navios de guerra tinham suportes onde os escudos vikings podiam ser enfileirados, proporcionando proteção adicional contra ataques.

A vela quadrada viking podia ter até 100 m2 de lã de espessura dupla, geralmente tingida de vermelho ou com listras vermelhas para impor medo em seus inimigos [fonte: Cohat]. Os vikings também usavam âncoras de metal e dispositivos de navegação primitivos.

Veja na próxima seção por que os vikings eram tão belicosos
Por que os vikings saqueavam?
Os escandinavos certamente não eram o único povo de sua época a invadir e saquear seus vizinhos, mas faziam isso com maior freqüência e com uma eficiência brutal não encontrada em outras culturas. O que os induziu a ser i viking? Há várias teorias diferentes e provavelmente nenhuma explica isso por completo. Uma combinação de vários fatores possivelmente provocou o comportamento sanguinário dos vikings.

Terreno - os escandinavos viviam em ilhas (em inglês) ou penínsulas (em inglês) sem espaço para se expandir. A terra normalmente era fraca para a agricultura ou muito montanhosa para se viver e o clima era muito frio. Assim, eles buscaram em outras partes, não só lugares para colonizar ou conquistar, mas locais onde simplesmente pudessem obter os recursos que lhes faltava em casa.
Pressões populacionais - as culturas escandinavas existiram por várias centenas de anos antes de desenvolverem sua reputação de saqueadores. O que mudou? A população. Avanços na tecnologia agrícola e o clima permitiram que eles cultivassem mais alimentos e lavrassem mais terra. Os recursos adicionais levaram a uma população mais saudável, a uma expectativa de vida mais longa e a um aumento geral da população. Essa pressão populacional se manifestou como disputas entre vários clãs e reinos dentro da Escandinávia, mas também como um impulso para deixar o lar, explorar e conquistar novas terras.
Tradição - ataques costeiros podem ter começado como um simples trabalho. Alguns homens escandinavos ganhavam a vida fazendo esse trabalho perigoso. Mas ele se tornou uma tradição que se auto-sustentou, até que praticamente cada homem escandinavo estava na fila para participar dos ataques. Esperava-se que os homens jovens se colocassem à prova dessa maneira.
Exílio - a lei viking freqüentemente se valia do exílio como pena para criminosos condenados. Quando se despacha criminosos condenados em um escaler para se exilar por contra própria, há uma boa chance de que ocorram algumas pilhagens e saques costeiros.
Ganância - os vikings queriam moedas, animais domésticos, escravos, tesouros, especiarias, obras de arte, matérias-primas. Provavelmente não desejavam isso tudo mais que outras culturas e geralmente as adquiriam por meio do simples comércio. Porém, com sua habilidade no mar e tendências violentas, freqüentemente se encontravam em posição de tomar aquilo que quisessem.

A política viking
As primeiras investidas dos vikings foram em colônias na própria Escandinávia. Depois dos ataques, os vikings retornavam para casa com seus despojos. Por fim, começaram a estabelecer postos avançados de comércio nas terras atacadas, como a Irlanda (em inglês) e a Inglaterra (em inglês). Esses postos também serviam como pontos de lançamento de novos ataques. Os vikings conquistavam e mantinham parte do território que atacavam.

Em 839, um viking dinamarquês conquistou Ulster (em inglês), na Irlanda, estabeleceu uma colônia - que um dia se tornaria a cidade de Dublin (em inglês) - e coroou a si mesmo rei [fonte: Cohat]. Com o tempo, os pequenos grupos de ataque vikings se tornaram exércitos (em inglês). Eles navegavam rio acima ou marchavam pela terra, avançando pelo interior, distante dos locais costeiros que normalmente atacavam. Os vikings até sitiaram Paris (em inglês) e provavelmente a teriam capturado se o povo não tivesse pago um resgate.


Sisse Brimberg/Cotton Coulson/Keenpress/National Geographic/Getty Images
Encenação da batalha de York: os vikings contra
os ingleses
O exército viking na França (em inglês) provocou grandes problemas, continuamente atacando e sitiando cidades. O rei franco Charles, o Simples, finalmente fez um acordo com um líder viking chamado Rollo. Sob a condição de que se convertesse ao cristianismo, Rollo foi agraciado com o território hoje conhecido como Normandia (em inglês), que em sua forma original significava algo como "terra dos homens do norte". Alguns escandinavos se estabeleceram na área e gradualmente se mesclaram com a cultura francesa que os rodeava [fonte: Haywood 2000].

Vikings dinamarqueses controlaram cerca de metade da Inglaterra do fim do século 9 até o século 11 [fonte: Haywood 2000]. Essa área era conhecida como Danelaw (lei dinamarquesa). Ela não foi um reino totalmente viking - antes, as leis dinamarquesas dominavam devido à influência de vários lordes escandinavos. A quantidade de postos diretos de governo dos líderes vikings sobre a região variou ao longo das décadas.




Enquanto isso, a Irlanda foi conquistada, retomada, reconquistada e tomada novamente por várias facções escandinavas e povos celtas. Por fim, os celtas na Irlanda e os anglo-saxões na Inglaterra absorveram o povo nórdico que veio para viver com eles (e às vezes dominá-los) através de casamentos e adoção de costumes e tradições. Essas pessoas adotaram o cristianismo prontamente, ainda que a religião tenha se difundido mais lentamente na própria Escandinávia.
Nas terras natais dos vikings, o governo tomou a forma de uma democracia primitiva. Cada reino era dividido em distritos. Dentro de cada distrito, todos os homens livres se encontravam a intervalos regulares em uma assembléia geral. Reis, nobres, homens ricos, guerreiros, mercadores e agricultores tinham todos tecnicamente uma voz igual nos procedimentos, que podiam incluir decisões políticas, disputas de terras e julgamentos de criminosos. Um oficial eleito ou nomeado conhecido como porta-voz da lei atuava como um juiz imparcial para conduzir as reuniões. Entretanto, aqueles que tinham mais riqueza e poder exerciam mais influência que os outros e haviam alguns procedimentos formais. Se uma disputa não pudesse ser decidida, eles freqüentemente recorriam a duelos ou a provas conhecidas como ordálios [fonte: Wolf]. Em um ordálio, alguém podia receber a ordem de caminhar sobre a água ou segurar ferro quente (pense nos julgamentos das bruxas de Salém). Se a pessoa permanecesse incólume, era considerada inocente graças aos deuses olhando por ela.

Navio Viking

Viking

Quem foram os vikings?
Embora o termo viking seja usado de maneira geral para descrever o povo da Escandinávia durante o período medieval, na realidade ele é o nome de uma profissão - é como se chamássemos todo o povo da Espanha ou da França de piratas. Entre os escandinavos também havia exploradores, agricultores, pescadores e mercadores - não apenas vikings. O povo normalmente chamado de viking era, na realidade, composto de vários grupos diferentes, incluindo dinamarqueses, suecos e noruegueses, que também eram divididos em reinos menores.


Jeff J Mitchell/Getty Images
A celebração do Ano Novo Escocês, conhecida como Hogmanay, incorpora fantasias e tradições vikings originárias das regiões nórdica e gaélica
Os verdadeiros vikings eram todos homens. Eles usaram sua experiência em marinharia e batalhas para fazer incursões nas cidades e igrejas dos reinos vizinhos. Essas incursões eram parte de uma cultura bélica que enfatizava a batalha como um meio de um homem colocar a si mesmo à prova.

Ir a tais incursões era conhecido como ir "i viking" [fonte: Haywood 2000]. A verdadeira origem da palavra está perdida na história e há muitas teorias contraditórias. Algumas sugerem que é derivada do idioma nórdico antigo, vikingr, que significa "pirata" [fonte: MacShamhrain]. No entanto, é provável que vikingr tenha se originado com as vítimas dos vikings e só mais tarde tenha sido adotada pelos próprios vikings. A palavra também pode ter se originado da palavra wic, do inglês antigo, que significa "porto de comércio", referindo-se ao hábito dos vikings de atacar esses lugares [fonte: Haywood 2000]. Outra teoria ainda sugere que ela é baseada na palavra nórdica vik, significando "baía" ou "massa de água" ou uma palavra de sonoridade similar que significava "dirigir-se para longe" ou "partir em uma jornada" [fonte: Cohat].

Em todo caso, a concepção moderna do termo viking vem dos registros históricos da época feitos pelos dignitários da igreja, as pessoas mais instruídas daquele período. Os vikings costumavam atacar igrejas devido a sua opulência. Os cristãos ficavam horrorizados com esses ataques porque, com isso, aviltava-se a santidade de tais lugares. Como resultado, a maioria dos registros escritos remanescentes vem de relatórios cristãos de prestação de contas e descreve os vikings sob uma luz particularmente desagradável. Isso não quer dizer que essa descrição seja injustificada - os ataques Viking às cidades e às igrejas européias eram realmente brutais, mas isso representa apenas um aspecto da cultura escandinava